A Barco galeria, localizada no centro de Santiago, Chile, organizou uma homenagem à arquiteta Lina Bo Bardi. A exposição Sirena, da artista Jessica Briceño com curadoria de Matías Allende Contador e Anton zu Knyphausen, coloca o trabalho disciplinar de Bo Bardi como ponto central de reflexão através de uma instalação imersiva que reúne cinco peças que abstraem seus recursos mais recorrentes. A mostra conta com colaboração da Embaixada do Brasil no Chile.
A galeria ocupa uma sala dentro do Edifício Barco, de Sergio Larraín, uma obra pioneira da arquitetura moderna chilena. Propõe uma prática curatorial dedicada ao debate, pesquisa e desenvolvimento de ideias críticas e inovadoras relacionadas à arte e arquitetura por meio de ciclos expositivos. Suas exposições mais recentes incluem 1972: Ciudades para el centro de Santiago, Solo tendrás piedras e Anaquel de Manufactura Aditiva.
A seguir, os autores nos apresentam a exposição com suas próprias palavras:
30 anos após a morte da arquiteta ítalo-brasileira, Lina Bo Bardi (Roma, 1914- São Paulo, 1992), e 200 anos após a independência e formação de um Brasil independente, queríamos colocar o trabalho disciplinar de Bo Bardi como o eixo da reflexão. Sobretudo pelo seu papel de intelectual pública, profissão que exerceu desde o início da sua carreira como colunista e editora de revistas de arquitetura e design, primeiro na Europa e depois na América Latina (como a Domus ou a Habitat, respetivamente); como educadora permanente e como diretora cultural, cargo que viria a exercer no SESC Pompeia por muitos anos.
A guerra e a Itália devastada a levaram ao Brasil, em 1946, com Pietro, seu marido, onde iniciaria com mais intensidade o trabalho de arquiteta. Ela trouxe consigo as ideias da arquitetura moderna de forma indelével, e um compromisso social e político – influenciado pelo marxismo heterodoxo de Antonio Gramsci – que rapidamente se traduziria num compromisso com a cultura popular do país de acolhimento e na elaboração de uma arquitetura moderna em tom brasileiro.
Do ponto de vista disciplinar, destacou-se ao lado de outros modernistas brasileiros, mas conferiu um cunho inconfundível à sua obra ao incorporar elementos da natureza e das condições específicas do lugar, que devoram e ressignificam os materiais da arquitetura moderna e apelam a uma urgência de identidade popular e respeito pelos seres vivos.
Lina foi uma intelectual avançada que adiantou muitas revisões do feminismo, da ecologia e do latino-americanismo, que – sem chamá-los assim – passam por sua obra e queríamos expressar aqui. Para isso, convocamos a artista venezuelana Jessica Briceño para gerar uma instalação imersiva a partir de cinco peças que abstraem dispositivos de montagem e unidades construtivas. Peças dominadas por concreto e cerâmica, além de plantas e água, elementos recorrentes na obra de Bo Bardi. Também na obra de Briceño se encontra com insistência a relação entre os materiais modernos e a matéria viva, assim como um elogio ao tropicalismo latino-americano.
Água e vida são uma constante na estética brasileira, conceitos que nos prendem em um canto de sereia, como quando Lina chegou ao porto do Rio de Janeiro e viu do navio o prédio do Ministério da Educação e Saúde; estilo e paisagem que a capturaram para sempre. Essa força da natureza, esse desabafo que era ela mesma, gostamos de pensá-la desde a alegoria das sereias, as mesmas que Lina pintou na adolescência.
Organização: barco galeria (diretor Anton zu Knyphausen) em conjunto com a Embaixada do Brasil no Chile.
Artista: Jessica Briceño
Curadores: Matías Allende Contador, Anton zu Knyphausen
Designer: María Cristina Adasme
Equipe: Pablo Lavín, Daniela Larral, Danitza Silva, Matías Reyes, David Nahmias, Leonardo García.
Patrocinadores: Embaixada do Brasil no Chile, Lei de Doações Culturais
Agradecimentos: Embaixador do Brasil Paulo Pacheco, Ana Claudia Guimaraes Dominguez, María Eugenia Llosa Talavera
Colaboradores: Archdaily, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Fab Lab da Universidade do Chile, Instituto Bo Bardi, Viña Baron Knyphausen, Camila Astaburuaga, alunos e alunas do ateliê de arquitetura Patria Leiva do Liceu República de Brasil.
Localização: Santa Lucía 382, sala 1C, Santiago
Quando: Quintas e sextas 11-6.30pm, sábados 11-2pm; aberto até 26 de janeiro.
Publicação do catálogo e encerramento da exposição: Quinta 26 de janeiro.